terça-feira, 8 de março de 2016

A propósito da Isabel I com a Catarina II e a Mary Stuart da Escócia..


Tenho por mim que os movimentos históricos são orquestrados pelo karma mesmo, coletivo... Quando pinta um... Não tem jeito!!!
Todos os devedores vão pagar suas contas..aff...

Então, não há diálogo que mude o transito das almas penadas
em direção ao inferno ou ao purgatório... Isso existe!!! rs...
É senso de humor negro, né? Mas... se a gente não se divertir um pouco, mergulha na ilusão do instante histórico e fica preso nele, com raiva disso ou daquilo e tentando resgatar o que é irresgatável...

Mas, por outro lado, temos que sustentar o nosso eixo... cristão pra valer!, e buscar socorrer os aflitos!!! Quem se abre, a gente ajuda, quem se fecha a gente deixa na ostra... Tá preparando a pérola dos milênios...
Eita, que demora, viu?
Até cair a ficha, é um tempo e tanto...
Não sou a favor de "conversões"... Não temos que "converter" ninguém a isso ou aquilo, concordam?
O panorama está aí, todo mundo pode ler...
Ler o mundo, porém, não é uma habilidade muito simples de se conquistar...
Cada um lê à sua moda, do ponto onde se encontra,
na maturidade intelectual e moral que possui, enxerga isso ou aquilo 
e parte pra ação, e discursa, e se posiciona...
Caraca! Querer controlar isso é muuuuito complexo!!!
Divirta-se um pouco, por favor!!! É um espetáculo como outro qualquer a pirotecnia do poder (do suposto poder humano)...
No fim, fica o cheiro da fumaça, que tudo é artifício... 

O poder transformador é o do Amor, onde tem amor tem respeito, solidariedade, compreensão, misericórdia...
Se não tiver Amor, simplesmente não tem nada!!!
O "nada", a negação humana do amor não pode nos afetar... E ele nos afeta, sim, quando deixamos de amar... Se nos mata, apenas, continuamos amando... vivos no além... Se nos maltrata, continuamos amando, vivos aqui...
Entonces,¡¡¡vaya por Dios!!! ¿Lo que pasa? Nada!!!
Que bom que você chamou o Chico pra nossa conversa...
Ele não contradizia ninguém!!!
Era uma coisa extraordinária.. essa postura dele...
Talvez Vc possa conversar pessoalmente se a pessoa der abertura, é recomendável isso, por São Paulo; já leu a carta dele, em que ele orienta como conversar com um irmão equivocado? Veja se encontra, vai te ajudar muito... É sempre uma conversa em particular...

Esse exercício de se calar é muito interessante, a gente precisa demais aprender a sintonizar a possibilidade de percepção das pessoas... Tem hora que só a vida com sua dureza dá conta de ensinar um renitente impiedoso... Ele vai necessitar de piedade, de compreensão e não vai encontrar, então, pode ser que aprenda...

Recentemente um senhor amigo do Chico me contou que ele lhe disse que havia espíritos na Terra, em grande maioria, que não evoluiu nada nos últimos 10 mil anos!!! Imagina isso... As pessoas, pela misericórdia divina, estão por aí trabalhando, sobrevivendo, comendo, vendendo e comprando objetos, etc... Aprendem a fazer coisas, a manipular coisas, a criar coisas, mas não aprendem a edificar-se, a controlar-se, criam para o bem de si mesma e dos "seus"...

A gente se deixa iludir pela aparência do mundo "civilizado", mas estamos no tempo das cavernas, né não? A maioria passa fome, sede, falta de assistência médica, moradia, escola... O mundo não é o que aparece na mídia!!!

Então, Isabel I arrependida, precisa do amor da Mary Stuart, porque talvez não tenha compreendido ainda o que é a "piedade", e não consiga sentir ternura, sentimentos delicados, a Mary Stuart olha pra ela e pensa, já assisti esse filme! Mas, quem sabe, tenta perdoar e cercar a prima de cuidados? E a Catarina II que não é nenhuma camélia pois não cai do galho nunca, é só uma peça do quebra-cabeça que fica espiando tudo lá da sua Rússia arcaica, fazendo o que pode, à sua moda!


No mais, acho isso tudo muito divertido, um tanto exótico e, sobretudo, sublime, sim! Viva as mulheres, e viva Jesus, governador do planeta que lhes confia cada coisa que não dá pra acreditar!!! Ele é que é o máximo, porque tem solução pra tudo, perdão pra tudo, e oportunidades (quase) infindas...
E por hoje, em comemoração ao Dia da Mulher, 
é só!!!
Bjs e abraços pra todas!

Uberaba, 08 de março de 2016.

domingo, 9 de agosto de 2015

Impressões de "Um Amor de Renúncia"



Palacete do Século XVII situado na
Île de la Cité, no coração de Paris, similar à descrição de
 Emmanuel, autor espiritual da obra Renúncia, psicografada
por Francisco Cândido Xavier. 
A oportunidade de assistir o espetáculo que resultou do recorte feito pelo dramaturgo Alberto Centurião sobre a obra Renúncia do Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, foi preciosa e gratificante. A síntese do romance redundou em um texto para cena com apenas três personagens, o que nos pareceu, à primeira vista, um desafio e tanto para a diretora Lucienne Cunha, algo que se evidenciou, entretanto, ao vermos o trabalho finalizado, uma questão muito bem resolvida.  A concepção cênica do espetáculo nos ofereceu, sem dúvida, momentos de enlevo e de reflexão muito singulares.
Nas entrelinhas do texto, mediante o qual Emmanuel inicia a sua obra, fazendo a apresentação da protagonista, há pistas sobre os pendores para as artes em geral, do Espírito Alcíone. A percepção disso, presumimos, permitiu um insight muito interessante em relação à concepção cênica do espetáculo. Nessa esteira, a tradução da singularidade artística da protagonista para a linguagem teatral foi apresentada nos primeiros momentos do espetáculo de forma bastante especial.  Alcíone dançando, compondo a cena mediante o desenvolvimento de movimentos corporais leves e sutis, transmitiu, na exata medida, a ideia de um ser angelical, guiado por sentimentos nobres. A abertura do espetáculo tem uma composição densa e poética, e lida com a realidade do plano espiritual de maneira original, valendo-se de artifícios muito sugestivos.
Nesse aspecto, ressaltamos o que diz Leonard Pronko, em sua obra Teatro: Leste & Oeste. Esse autor e pesquisador faz uma observação importante sobre os recursos cênicos empregados pelo teatro na China; esclarece ele que o fazer teatral nesse país considera importante elaborar, mediante a produção de um espetáculo, um “apelo à faculdade criativa do espectador”.  Ou seja, os elementos fornecidos a esse, devem constituir-se em referência para que o público complemente, deduza, imagine, a partir do que está posto em cena, articulando em sua própria mente o contexto imponderável do espetáculo...
Um Amor de Renúncia revelou a adoção de uma linha de ação dramática apoiada na narrativa oral cênica. O trabalho foi habilmente conduzido pela direção com o adequado concurso dos atores Flavio Wongalak, Thalita Drodowsk e Valdir Ramos, no sentido de proporcionar aos espectadores, de forma bastante pontual, cada qual com sua introspecção, a oportunidade de construir e de fruir, junto com o elenco, o recorte poético da trágica relação afetiva do casal.
A trilha musical do espetáculo, então, considerados esses aspectos do trabalho, surgiu como um contraponto sutil. A história se passa no século XVII, mas, os grandes amores eternos, as histórias trágicas protagonizadas por apaixonados que professam convicções inalienáveis e revelam personalidades marcantes, não têm tempo fixo, data prévia, época adequada para acontecerem. O tempo presente é o seu momento. Os conflitos, os processos de aprendizagem mediante a difícil convivência, em meio a todas as nuances que compõem uma existência de sacrifícios e, sobretudo, as relações amorosas densas, não pertencem a nenhum período exclusivo da história da humanidade. Basta um casal verdadeiramente apaixonado impossibilitado de realizar o seu sonho de amor para se desenvolver uma trama que eletrizará qualquer plateia. Os insucessos, os sofrimentos e agruras da vida postos em cena, serão tanto mais amargos e dolorosos quanto menos preparados estiverem os espíritos para renunciar e amar realmente. 
Convento das Carmelitas Descalças de Espanha, em Paris, onde
a protagonista do romance Renúncia, Alcíone,
permaneceu durante um ano, no século XVII.
A Igreja foi destruída pela Revolução Francesa. 
O espetáculo, neste aspecto, patenteia claramente as diferenças sutis entre os dois protagonistas e nos oferece elementos para buscarmos compreender a riqueza espiritual do contexto todo do trabalho em torno do romance, que é uma narrativa bibliográfica. Os personagens existiram, trata-se de uma história de vida. Seja a obra literária, seja o espetáculo posto em cena, o pontual esclarecimento sobre o que determinava o padrão de conduta de Alcíone e a revelação de onde e como ela buscava lucidez e forças para discernir e se posicionar em todas as circunstâncias da sua vida, é algo precioso para nós. Os anseios de ambos os protagonistas, Alcíone e Padre Carlos, eram idênticos, estavam enamorados, mas, a forma como faziam a leitura do momento que viviam e definiam suas opções é que gerava o diferencial de ambos. Entretanto, embora vivendo no século XVII, evidencia-se para nós, o fluxo das emoções e dos sentimentos comuns a todos os jovens apaixonados de todos os tempos, aquilo que, como força imanente do Universo, os atraia, aproximava e unia, apesar de todos os obstáculos, por todo o sempre... O amor de Deus, o amor eterno do Pai, que visita os corações dos seres humanos para proporcionar-lhes a benção do convívio e da aprendizagem...
Nesse aspecto, consideramos que a atualização do romance entre Alcíone e Carlos mediante uma trilha musical apoiada em Tom Jobim e Vinícius de Moraes se aplicou muito bem ao contexto da história e do espetáculo. De certa forma, foram eles, Tom com sua música e Vinícius com sua poesia, os que mais contribuíram para a formação da identidade amorosa do povo brasileiro. O amor foi o tema principal da obra de ambos e das canções que compuseram. As mais belas desse repertório, que constitui um precioso conjunto de canções integradas ao patrimônio imaterial do Brasil, como Eu não existo sem você e Se todos fossem iguais a você, foram selecionadas para compor a trilha musical de Um Amor de Renúncia. De certa forma, essas músicas estão na memória musical afetiva da maioria dos espectadores, ouvi-las na voz desses protagonistas tão distanciados de nosso presente, ganha sentido profundo porque são canções cuja temática, atemporalidade e universalidade justificam, sim, a sua inclusão no conjunto de músicas do espetáculo.
A composição do personagem Padre Damiano, por outro lado, traz para o contexto do trabalho, o aporte denso de um ator tarimbado, com recursos próprios construídos ao longo de uma carreira bem articulada, tanto pelo aprimoramento técnico quanto pela experiência profissional. Sua contribuição dá consistência às cenas das quais participa e sustenta o espetáculo de forma magistral. Valdir Ramos conseguiu carrear para as cenas em que atua, a amorosidade intensa de um pai sábio e carinhoso, que é, ademais, o próprio autor espiritual da obra. Emmanuel era o Padre Damiano! Nesse aspecto, é importante observar que o espírito Emmanuel foi pai de Carlos e também de Alcíone em encarnações distintas, essa ligação é patente, e mediante a performance do ator, tal aspecto é ressaltado de forma bastante comovente. Padre Damiano medeia o conflito dos filhos espirituais e Emmanuel narra a história, um recurso muito bem aplicado pelo dramaturgo Alberto Centurião.
A cena final do espetáculo, portanto, tem forte impacto sobre a consciência de todos os presentes. Esse momento dramático é marcado pelo gesto de um pai que lança sobre o filho a capa protetora do seu amor, compreendendo e perdoando esse filho, apesar de tudo. E afirmando, ademais, o direito que esse filho, equivocado e ingrato, tem de ser compreendido e de ser perdoado, de receber, enfim, o amparo de que necessita.  O público também entende o significado disso: no momento oportuno, se converterá esse gesto de proteção e misericórdia, certamente, em uma nova chance de reencarnação para que o Padre Carlos possa reparar os erros do passado e aprimorar o próprio espírito em sua contínua senda evolutiva. É essa a derradeira impressão que o espetáculo passa, grandiosa e bela em sua expressão de generosidade. O momento do desfecho da encenação traduz, sobretudo, para todos nós, a sublime esperança que a consciência da vida eterna proporciona e a consoladora certeza de que poderemos, nós também, resgatar os nossos débitos e corrigir os nossos defeitos mediante o renascimento neste plano físico, em novas encarnações.
O espetáculo, inevitavelmente, nos remete, portanto, a uma reflexão sobre a nossa própria existência também. Todos que estão assistindo Um Amor de Renúncia, de alguma forma, se vêm instados a rememorar o próprio passado e a rever a sua própria vida, sob a ótica filosófica do autor do romance Renúncia, na impecável perspectiva evangélica e espírita de Emmanuel...
As sugestões oferecidas pelo cenário do espetáculo nos remetem, por sua vez, às paisagens, ao rosto arquitetônico de Ávila e de Paris, que contemplamos pensativos... Eles nos induzem à assimilação das dores dos personagens em cena. Mas, ao mesmo tempo, haurimos o conforto que a fé, o amor e a renúncia de Alcíone nos proporcionam durante todo o tempo, tanto na obra original de Emmanuel quanto no próprio espetáculo de Lucienne Cunha.
Convento das Carmelitas Descalças em Medina del Campo, onde Alcíone foi
vice-priora, passando aí o período final de sua vida, antes de ser levada para
o Tribunal da Santa Inquisição em Madrid, onde veio a falecer.
Sucessivamente, Alcíone perde o seu status socioeconômico, perde, subitamente, o pai e a mãe, e em seguida, perde o homem que ela amava e, por fim, perde, de certa maneira, a própria identidade feminina, abdicando por completo da possibilidade de casar-se, de constituir família e de ter filhos... A sua renúncia é plena, sobretudo, também, porque ela reencarnou sabendo o que poderia acontecer, e o fez abrindo mão de suas possibilidades de manifestação artística ou mesmo em outras áreas como a de Saúde porque fica patente também a sua competência como enfermeira. Ela cuida habilidosamente e de forma muito eficaz, de sua mãe e de Suzana, que perde o controle das suas faculdades mentais, assim como do próprio Padre Damiano. De certa maneira, estende esse cuidado à toda a família, convertendo-se em suporte para a meia-irmã Beatriz e para o pequeno Robbie... Alcíone foi realmente o que hoje em dia se denomina uma “cuidadora”.
O espetáculo funciona, outrossim, como um excelente estímulo à leitura da obra Renúncia, de Emmanuel. São vários personagens que não aparecem no espetáculo, compondo uma intrincada trama que aborda, afinal, a questão da justiça divina e o regenerador processo reencarnatório, de forma precisa e esclarecedora. Oxalá muitos a leiam e reflitam bastante sobre o que propõe esse romance, para dirimir dúvidas quanto ao que é, em verdade, o sentimento de amor.                
Definitivamente, não é a satisfação imediata dos desejos pessoais de cada um, nem a alegria de conviver exclusivamente com aqueles que nos compreendem... É um exercício permanente de renúncia, posto que não é possível amar verdadeiramente sem fazer sacrifícios, sem tolerar, sem ajustar-se ao contexto do outro, abrindo mão das próprias prerrogativas. O amor incondicional que Alcíone manifesta está em absoluta oposição ao que o jovem Padre Carlos alcança e revela. Seu egoísmo, seu individualismo e a consequente postura radical que advém dessas características de sua persona, o levam a tornar-se, de forma bastante dolorosa, o próprio algoz de sua amada. Tal realidade, marcada com extrema crueldade, nos sensibiliza profundamente, tanto na condição de leitor da obra literária quanto na de público fruidor do espetáculo.
Esse é outro aspecto singular da obra de Emmanuel, ela resgata, de certa maneira, o sentido do culto, aqui entendido por nós como observação, meditação e prática do exemplo dado por Jesus Cristo crucificado. Fica patente a ideia de que há um sentido profundo neste mister, ao qual se dedicou Alcíone durante toda a sua vida e do qual extraiu as forças de que necessitou para converter-se em Irmã Maria de Jesus Crucificado, ou seja, um ser capaz de renunciar aos seus próprios anseios em favor de outrem, uma seguidora incondicional do Mestre, que analisa atentamente todas as circunstâncias de sua vida e cumpre a vontade do Pai, sem queixas, sobretudo, perdoando a todos. O exemplo dado por Jesus Cristo, mediante o seu sacrifício é de humildade, de renúncia e de perdão, virtudes que foram vivenciadas por Alcíone em sua existência tão curta e tão repleta de espinhos, singularizada por sua tentativa de fazer essa imitação de Cristo, buscando, também, de alguma forma, manifestar o seu amor incondicional.
Ocorre-nos, então, a ideia de que o século XVII não está tão distante assim de nós!... Na sequencia de vidas que compõe o ciclo de aprendizagens de espíritos afins, as oportunidades sempre se renovam e os bons propósitos, abençoados pela Misericórdia Divina, encontram terreno para fazer florescer os sentimentos e as atitudes que faltaram no passado...
E creio, por essa razão e, a despeito de tudo, que Alcíone, de alguma forma, expressaria sua gratidão pela manifestação da verdade íntima de cada um dos seus opositores com os quais cruzou em sua trajetória luminosa pela Terra... Explico: do ponto de vista dramatúrgico, em uma tragédia ou epopeia, tanto mais envolvente e impressionante se torna a trama e a resistência do protagonista quanto melhores forem seus oponentes. Ao explicitarem sua verdade, a natureza que os caracteriza e move, oferecerão  ao protagonista, a oportunidade de afirmar a dele também. De certa maneira, os hipócritas, os falsos e os dissimulados que não se revelam, também não agem, e, por conseguinte, não demandam uma reação positiva, densa, porque permanecem na sombra... O público de um espetáculo teatral ou o contingente de leitores de uma obra literária trágica, pois, se encanta com o protagonista, sabe que ele perde e morre, mas, o que o torna admirável não é o fato de perder ou ganhar, mas, a dignidade com que luta até o fim, por aquilo que defende...
É um alento para nós, nesse sentido, a identificação clara de um processo de aprendizagem coletiva no contexto desse conflito todo que o romance e o espetáculo expõem, sobretudo porque não é inviável a ideia de que um dia, em algum lugar do Universo, todos esses personagens, que são espíritos eternos, se reunirão para vivenciar a paz e compartilhar as alegrias do amor incondicional.  Fica em nosso espírito essa certeza que nos conforta sobremaneira, mediante a leitura da obra de Emmanuel, seja num suporte, em brochura, seja na sua versão sintetizada, em um palco... Somos todos humanos, espíritos em evolução na  esteira infinita da vida, filhos do mesmo Pai!... Teremos, portanto, a nosso turno, também, a nossa chance de aprender... 
Aprender a viver, um igualmente belo, comovente e transformador, Amor de Renúncia!...

 Rita De Blasiis
Uberaba, 05 de agosto, 2015.



Referências Bibliográficas
EMMANUEL. (Espírito). Renúncia. [Psicografado por] Francisco Cândido Xavier. Brasília: FEB, 2005.
PRONKO, L. C. Teatro: Leste & Oeste. São Paulo, Perspectiva, 1986.



sexta-feira, 22 de maio de 2015

Era uma vez...uma nuvem de andorinhas!

Naquele tempo antigo, as pessoas trabalhavam com suas próprias mãos, fazendo tudo que precisavam e era bonito ver como elas sabiam construir uma casa, fazer uma espada ou um barco para si mesmas... 
As noites eram longas , silenciosas e escuras. E os dias iluminados e cheios de muito trabalho! Eram tão pouquinhos os homens que sabiam ler e escrever, no entanto...
Quem não sabia mesmo nadinha, tinha que depender dos outros, das explicações que alguém daria principalmente para estudar  os ensinamentos sobre Deus e suas leis.
Mas parece que as coisas estavam mudando! Havia um homem, circulando no meio do povo que falava sobre isto tudo com muita simplicidade e pra todo mundo entender. Ele explicava com paciência as leis de Deus e falava com tanto carinho! E quem ouvia atento, o coração bem aberto, tinha uma certeza tão forte, tão grande de que ele dizia a verdade!
Ah, esta certeza! Tudo mundo quer ter... Mas é uma coisa muito difícil de se conseguir, como vou explicar pra vocês? Talvez com uma história, uma bonita história da natureza... A natureza é cheia de mistérios, de coisas escritas nas entrelinhas... De vez em quando, é bom a gente ler o que está escrito nas páginas do mundo pra ver se a gente entende melhor, o que ele quer de nós...O que ele quer nos ensinar... Foi assim mesmo que, naquele sábado, a contadora de histórias na Biblioteca Pública Municipal anunciou que iria contar uma história nova...

Que história seria esta?

Um dia , - disse a contadora de histórias...Eu estava em um carro. O motorista me levava para algum lugar que não me lembro bem onde era. Mas eu me lembro, sim, de que ele começou a comentar muito admirado:
- Sabe, dona, eu acho uma maravilha estes passarinhos do peitinho branco com uma capinha preta por cima. Eu fico encantado de ver o jeito deles...
E eu logo concordei:
- Eu também! São andorinhas, são as andorinhas que alegram a primavera ...
-E a senhora já viu como são muitas? Fazem umas revoadas bonitas...
-É...eu tenho o costume de ficar olhando pra elas... Têm uma maneira interessante de voar... Fazem piruetas no céu, reviravoltas, umas manobras complicadas!
O motorista ria. E se encantava. Ele também tinha reparado isto tudo e era bom ver que alguém como ele, ficava apreciando o vôo das andorinhas. Então , eu tentei ilustrar um pouquinho a conversa:
-Elas fazem uma grande algazarra, todo dia, às seis horas da tarde. Dizem, que são aves de Maria, são os passarinhos que voam para louvar a Mãe amorosa de todos os homens...
Houve um momento de silêncio na conversa e de repente, o homem me confessou:
-Sabe, dona, eu nunca tive coragem de perguntar isto pra ninguém, mas eu tinha uma vontade de saber como é que elas conseguem se esconder tanto tempo durante o ano e depois aparecer novamente, de repente, sem explicação, como se estivessem saindo de um buraco na terra...
-Gente, eu fiquei assombrada com aquela pergunta. - falou a contadora de histórias para as crianças. Ele estava pensando que as andorinhas morrem todas e depois ressurgem por algum meio misterioso e começam novamente a povoar o céu!...Mas quando ele me confessou isto, tínhamos chegado ao nosso destino e eu estava com muita, muita pressa, não tive como esclarecer aquilo...

Quem já sabe? Quem já viu?  O que acontece com as andorinhas...

A vida é engraçada, ela é cheia de acontecimentos que parecem bobos, às vezes, até, sem sentido. Mas, eles sempre têm algo importante, escondido no fundo, algo que a gente pode observar, pensar bem e tirar uma boa conclusão. Ou então, guardar, porque lá na frente, vai servir pra alguma coisa! Muitos anos atrás, numa tarde, ou melhor num final de tarde, falou a contadora de histórias para os meninos na biblioteca, eu estava num lugar muito alto, olhando o pôr-do-sol, quando vi uma coisa extraordinária!     Naquela faixa avermelhada  de luz, onde o poente fica bem bonito, mesmo distante do lugar exato em que o sol se põe, eu vi... Vi uma verdadeira nuvem de andorinhas, uma revoada enorme, tão grande como se todas as andorinhas da cidade estivessem ali reunidas, voando juntas, tão certinhas, tão juntinhas que perdi o fôlego! Era muito lindo! Elas estavam indo embora, gente. Elas estavam partindo todas, de uma só vez, simplesmente porque o inverno estava começando e elas iam em busca de outro verão, bem longe, lá no hemisfério norte. Imaginem vocês... Mas não me olhem com esta cara. As andorinhas chegam onde querem, sim, sozinhas! Chegam mesmo! É que, segundo a ciência descobriu hoje em dia, os passarinhos que voam assim pra longe, com endereço certo de chegada, têm uma espécie de luz interna que os guia, de forma que encontram o seu destino sempre.                                                                                                                                     Todos os meninos olharam para a contadora de histórias. Nos olhos deles havia andorinhas voando e nos lábios, uma pergunta que nem chegou a ser feita, a contadora de histórias adivinhou:                                   --Vocês querem saber porque estou falando tanto de andorinhas? É porque hoje, vou contar um acontecimento incrível pra vocês... 

Que acontecimento seria este? 

Lembram-se daquele lindo menino que ajudava o seu pai na carpintaria e sua mamãe com muito amor? Então, ele cresceu, mas o seu espírito continuou puro e bom, e suas histórias eram sempre tão lindas que o povo todo não queria se afastar dele de jeito nenhum. Parece que eles tinham uma grande sede de pureza e de beleza, ah! eles tinham sim!...
Seus amigos,entretanto, não podiam controlar muito bem aquela multidão... Naquele dia, depois que contara muitas histórias, lá em cima da montanha, ele desceu até a beira de um lago e pediu para os seus amigos, ainda um pouco assustados, que fossem para a outra margem , de barco. Enquanto isso, ele faria com que as pessoas partissem para suas casas, calmamente. E assim foi, todos foram embora e os seus amigos, que eram pescadores, ficaram no meio do lago, de noite, enquanto ele rezava, buscando o conforto do céu. Acontece que veio uma grande tempestade, e o barco começou a balançar muito, muito, porque havia um vento fortíssimo que soprava no sentido contrário ao que os amigos do menino queriam...Eram já três horas da madrugada, quando, de repente, no meio da grande tempestade, eles viram um vulto sobre as águas. É um fantasma, gritou um deles, assustadíssimo! É um fantasma, sim!  Mas o vulto, quando estava um pouco mais perto, gritou e pediu que eles não tivessem medo, Sou eu, ele disse. E todos viram que ele vinha, assim mesmo, caminhando sobre as ondas como se estivesse em terra firme! Um deles que se chamava Pedro e era um bom homem, sentiu uma força estranha dentro dele e exclamou: 
-Se és tu, senhor, ordena que eu consiga ir até onde estás...E o menino disse para Pedro:
-Vem!  E Pedro foi. Pedro saltou do barco e caminhou sobre as águas... Mas, por um momento, ele se distraiu, e prestou atenção na força do vento. E pensou, no fundo , que a força do vento podia ser maior que a força que o levava sobre as águas. E assim pensando, ele afundou e já ia sendo tragado pelas ondas, quando pediu novamente ao seu amigo:
- Salva-me! E o amigo bondoso, apenas estendeu a mão e o levou até o barco, dizendo :
- Por que duvidastes, amigo de pouca fé?
Um grande suspiro cortou o silêncio que pairava no ar da Biblioteca. Acendiam-se nos olhos das crianças mil possíveis perguntas. No coração de todos havia algo para questionar...

O que pensaram os garotos na biblioteca sobre esta incrível história de alguém assim, caminhando sobre as águas?

A contadora de histórias também suspirou. Ela não tinha respostas prontas para todas as perguntas! Não tinha como provar para as crianças que o moço, que ela amava tanto, era capaz de fazer estas coisas, e as fazia de verdade. Mas, mesmo assim, ela criou coragem e abriu um espaço pra todo mundo falar. Para seu espanto, no entanto, todos ficaram mudos, apenas um menino, mais corajoso, perguntou à queima-roupa, de um tranco só e sem dó, como costumam fazer as crianças com os adultos:
-Ele era um super-homem, um super-herói como os da televisão?
Alguns riram, outros ficaram sérios. Que pergunta mais difícil de responder!
E no rastro desta pergunta, de repente, vieram muitas outras, porque todos criaram coragem e começaram a indagar... Como que ele conseguiu fazer isso? Porque que o Pedro caiu dentro d'água? E porque que ele não mandou o vento embora? E por que...A contadora de histórias tentou organizar a confusão armada pelos meninos.
-Calma! -ela disse. Um de cada vez!... Nós agora, vamos pensar um pouquinho em todas as respostas. Todo mundo aqui vai tentar achar uma explicação, vamos nos ajudar e entender juntos, tudo o que queremos compreender,está bem ?
E então, o silêncio que a contadora de histórias pediu, aconteceu. Ficaram todos bem quietinhos pensando, até que o menino que fez a primeira pergunta achou a primeira resposta:
-Eu acho que eu sei quem ele era, não precisa ninguém me falar...e eu acho que eu entendi porque você contou aquela história das andorinhas...
A contadora de histórias,sorriu, e disse apenas: 
 - Cada um de nós tem dentro de si, uma luz que nos mostra onde está a verdade, o que devemos fazer e como fazer tudo muito bem feito...  O importante é que vocês  não se esqueçam de que ele sempre está vindo em nossa direção, pronto pra nos estender a mão quando desviarmos a nossa atenção dele e nos sentirmos afundar no meio de um mar de dificuldades...E sabem de uma coisa? Podemos até não encontrar respostas para muitas perguntas nossas, mas a sua mão estendida sempre vai estar presente na vida da gente... Os meninos entreolharam- se, que bom que estavam ali juntos, como andorinhas na tarde, partindo para a longa jornada da vida, em busca da primavera, com aquela certeza no coração: ele estaria sempre presente!




Lucas 8, 22-25
Mateus 8, 23-25
Marcos 4, 35-41


Araxá, 29 de abril, 2001.
(Esse texto foi lido na Rádio Antena, num programa de Contação de Histórias sobre Jesus, para crianças, aos sábados, mas, não era raro, estarmos na Biblioteca Pública também, a convite da Maria Clara Fonseca).

Para Fernanda Oliveira, que viu as andorinhas no Face e se lembrou disso... E para a turma toda da Oficina de Teatro, com muito carinho e saudade!!!
Rita De Blasiis
Uberaba, 22 de maio de 2015.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Quando o mestre aparece, a gente sabe!


São onze horas e quarenta e cinco minutos. Reservei este horário, antes do almoço para escrever... Uma hora e quinze minutos e vamos lá!
Desde que estou em Uberaba somente tive oportunidade de vivenciar um workshop em seis anos. Foi um longo período de abstinência focado em outros assuntos e no desenvolvimento de outros trabalhos. Mas, finalmente aconteceu, de novo! A experiência cumulativa de muitas oficinas com muitos mestres me proporcionou uma condição gratificante: reconheço um mestre à primeira vista, exatamente quando ele me olha bem direto nos olhos. É algo como o lastro do seu espírito aflorando, emitindo um alerta, sem falar, nem sequer pensar nisso. De imediato,  minha mente se apressa: presta atenção que ele tem algo a lhe oferecer que você só pode receber através do canal que acessou!
Não conheço nada mais impressionante do que isto! Quando o mestre aparece, a gente sabe! E ele vem com a sua bagagem de experiência, de conhecimento e de sabedoria da vida. Um pacote completo: algo que nos lega e fica para sempre.... Algo que nos proporciona que assume a configuração de um degrau ou de uma porta....O mestre costuma nos impulsionar para frente e para cima, com alegria e confiança, e como quê nos entregar a chave daquele espaço ainda não visitado que descobrimos no de repente da sua inusitada presença.
Então, foi assim mesmo: o Maestro Roberto Rodrigues abriu uma roda de conversa em torno dele, como se não tivesse outra coisa mais importante pra fazer além de ouvir sonhos, dificuldades, trajetos, expectativas que viemos trazendo pelo caminho da vida até nos encontrarmos com ele. Depois se levantou e, como quem brincava de dar aula com as crianças que ainda somos, foi verificar o que conseguíamos fazer, o que entendíamos por música, como nos valíamos dos nossos recursos físicos, mentais e emocionais para explicitarmos e compartilharmos o nosso canto. Era de se ver como ele fez aflorar as dificuldades de todos com poucos exercícios! Não corrigiu ninguém diretamente, não expôs nenhum participante ao ridículo de sua incompetência, não humilhou a impossibilidade técnica ou simplesmente pessoal de nenhum de nós, não ofendeu a suscetibilidade dos mais frágeis ou quiçá dos mais orgulhosos se os houvesse. Apenas foi dando sugestões muito precisas que certamente, cada um compreendeu perfeitamente porque ele bem sabia direcionar o trabalho de todos os presentes: nos observava e ouvia com absoluta nitidez. Recebi vários alertas que eram meus, comentei com os colegas, não perceberam nada ...Era tudo tão sutil, refinado, elegante... Um astral bem humorado, divertidíssimo, mas muito, muito e muito controlado e preciso. Um grau de seriedade, de domínio teórico e técnico aliado à generosidade dimensionada sobre uma compreensão filosófica da função da arte na vida do ser humano, seja ele o músico que executa, seja o espectador que ouve...
Aff! Este é o vigésimo quinto minuto do meu texto: preciso trazer à baila o ponto crucial do trabalho, meu tempo está se esgotando! Pois bem, logo de início, o Maestro disse a que veio, atuando, se relacionando, definindo sua abordagem. E foi bem claro nisso: não verbalizou em nenhum momento, porque não precisava anunciar que era um mestre e trazia algo significativo, com sua marca pessoal, construído ao longo da vida. Apenas agiu, abrindo uma perspectiva na consciência de quem estava pronto. Ah, mas isso é fundamental! Se o discípulo não está pronto, ele simplesmente não aprende nada, não percebe nada, não muda nada, não arreda pé de suas convicções. Acha que “já sabe”! E vira as costas, dizendo: “ah! achei muito interessante, mas, não foi novidade pra mim”! Esse é o “achólogo” típico e pelo que senti, entre nós não tinha nenhum “achólogo” de plantão, felizmente, porque caso contrário ele não deixaria o trabalho prosseguir, claro.
Falei em “abertura de perspectiva na consciência” e não esclareci  como compreendo isso. Bem, os mestres - proponho - são aqueles que conseguem mover a nossa consciência e nos conduzir suavemente por um caminho de propriocepção mais profunda, mais intensa. Essa era a articulação singular do trabalho em pauta. Canto em que o corpo se presentifica, a sensação dos elementos físicos envolvidos no ato de cantar é aguçada, ampliada. O corpo como fundamento, alicerce, instrumento, não apenas o aparelho fonador, mas todo o ser envolvido na emissão sonora, musicalmente envolvido! Sentimento, emoção, filosofia: ética e estética do canto, foi bem isso!
E era muito comovente, era extraordinário vê-lo relacionando-se com os participantes todos com um profundo empenho, com um extremo respeito humano, com uma paciência de Jó!!! Havia profissionais experientes, professores e também gente como eu, que gosta de cantar, mas não tem preparo técnico e teórico para executar peças complexas. Creio que no meu caso, nem mesmo as mais simples!
Mas o intuito do mestre não é conduzir abruptamente o discípulo a patamares elevados, não é expor suas graves impossibilidades ou deficiências perante o grupo, é, como já disse, abrir a perspectiva de melhoria, de aprimoramento com clareza, despertando no aprendiz, o profundo desejo de tentar e conseguir...
Essa é mais uma característica que considero extraordinária nos mestres que encontrei: são capazes de despertar, por empatia, através do exemplo muito generoso, o que chamo de “profundo querer” do aluno.  É possível alguém chegar a algum lugar sem querer ir? Precisamos almejar e almejar muito intensamente para suportarmos as exigências do aprendizado, para vencermos os obstáculos do caminho, para alcançarmos a realização de nosso ideal. Ou queremos profundamente ou não queremos e não nos realizamos no processo que não elegemos como prioridade para nós.
O mestre não destrói sonhos, não frustra expectativas, não grita: “NÃO, não é assim!!!” Isso ele comentou brevemente,e em palavras minhas, trazendo sua visão, reproduzo sua fala: "porque dizer algo desagradável a alguém? Essa pessoa vai, às vezes, passar noites em claro, sofrendo por causa do que eu disse. Por que gerar um sofrimento como esse? É inútil! No início, - ele comentou – eu fazia isso com os alunos, mas, depois fui aprendendo e procuro não agir de forma que os choque ou os ofenda"...
Aí, veio um comentário muito interessante, o Maestro disse: não existe nada perfeito. Não atingimos a perfeição. Executamos uma peça de uma forma. Em seguida, se a iniciarmos de novo, será diferente. Daí, compreendi que a ideia não é alcançar a perfeição, mas, fazer música, viver a música, sentir o prazer da música, centrar foco na função da música...E reitero, de minha parte, de muito bom grado, compartilhar boa música!
Vários exemplos ele citou, e um deles, ressaltou a questão do maestro e do compositor de uma determinada obra. No cartaz, no material de divulgação, vê-se o nome do maestro responsável pela regência da peça musical num espetáculo, em letras gigantes. O nome do compositor aparece discretamente em letras menores, caracterizando o desvio de função. A obra pode ser qualquer uma, e parece que ninguém vai ao concerto para ouvir Brahms, mas para ver o regente tal fazer sua performance extraordinária. Nesta esteira, o solista também vai para o pedestal e a música se converte em atividade restringida aos “eleitos”, aos “talentosos” com um “dom” inato.
Neste aspecto, além de ter vivido a experiência de reger um dos nove grupos do Coralusp, de lecionar e de desenvolver inúmeros projetos singulares e inovadores, Roberto Rodrigues dedica-se atualmente à regência do Coral Itaú Unibanco. Essa atividade lhe proporcionou o contato com pessoas que não têm formação específica na área de música, nem sequer leem partituras, mas o resultado obtido por ele é extraordinário!
Pudemos constatar o quanto Roberto Rodrigues, em sua generosidade, construiu em termos de metodologia para desenvolver e aprimorar o trabalho vocal de seus coralistas. Foi muito eficaz com a gente! Não chegamos a um patamar de excelência em tempo mínimo, mas conseguimos compreender, sentir e executar prazerosamente, três peças belíssimas, uma delas da Renascença e bastante complexa: Lirum bililirum de Rossino Mantovano.
Coral Itaú Unibanco em Itanhaem - Maestro Roberto Rodrigues à direita
Nos dois minutos que ainda me restam, acrescento, ou melhor, ressalto a questão da generosidade. O que faz o artista, em nosso entender, é a generosidade. Ele estuda e aprende e se aprimora para oferecer o fruto do seu trabalho a outrem. Quanto mais generoso, mais se aprimora e maior prazer tem em oferecer este fruto ao público. Comentei, na roda de avaliação final, que o Maestro propôs, que é a generosidade que faz com que o artista se prepare e agradeci pela extrema generosidade do mestre que nos proporcionou tão agradável e proveitosa oficina. Ao término, entretanto, ele se aproximou de mim e, em tom baixo e suave disse: “vocês é que foram generosos, sem a generosidade de todos, eu não conseguiria desenvolver o meu trabalho”.
A riqueza toda da experiência vivida não coube no tempo que reservei para relatar o fato e refletir sobre ele. Vou retomar o assunto! Por enquanto, ficamos por aqui, meditando e trabalhando...
Forte abraço a todos que participaram, e os que não vieram, não percam o próximo encontro que haverá de acontecer! Meus agradecimentos aos colegas e principalmente à Profa. Marly Gonçalves da Costa, que nos deu este verdadeiro presente do céu, articulando a vinda do Maestro Roberto Rodrigues a Uberaba*!

Rita De Blasiis

Maestro Roberto Rodrigues
No Coralusp, Roberto Rodrigues também promoveu intensa atividade didática como professor de Percepção, Harmonia, Arranjo, Regência, Técnicas de Ensaio para Monitores, História da Música e Apreciação Musical, assim como apresenta palestras sobre Iniciação Musical e Audições Comentadas de grandes obras corais sinfônicas. Atualmente desenvolve atividades no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Leia mais

E para matar a saudade... ouçam!
Lirum bililirum



Profa. Marly Gonçalves da Costa


*O workshop teve o apoio da Fundação Cultural de Uberaba e aconteceu no Conservatório Estadual de Música Renato Frateschi, onde a Profa. Marly Gonçalves da Costa leciona flauta.

sábado, 21 de agosto de 2010

APIATÃ

E se um arqueólogo da USP encontrasse na sua horta uma machadinha de agricultura indígena e alguns cacos de cerâmica perfeitamente identificáveis como panelas de barro feitas pelos índios que habitavam a aldeia que existiu onde hoje é a sua casa? O que você faria?
Vez ou outra, um episódio desses me surpreende... Penso que minha atração pela cultura indígena funciona ao revés, e por si, atrai essas coisas incríveis!
Guardei minha machadinha e os meus caquinhos com muito carinho...Quem sabe um dia encontram o seu destino?

Na adolescência, considerei algo da maior importância aprender a falar Tupi-Guarani. Desde a infância, o projeto de ser escritora me consumia um tempo de leitura e de preparação cultural, dentro de um contexto que era gerido segundo minhas próprias afinidades e prioridades. No meu entendimento infantil, escritor deveria ser culto! Como entender o Brasil, então, falar sobre ele, e com espirito genuinamente brasileiro, excluindo a cultura indígena? Muito infelizmente, não encontrei quem me ensinasse o Tupi-Guarani, nem mesmo um dicionário! Mas, esse desejo de aprendizagem ficou perambulando pelo meu coração... E as memórias do Brasil ameríndio também... Vez ou outra, correspondia aos apelos desta brasilidade mestiça que me premiou com uma bisavó tapuia legítima, vinda de uma aldeia indígena no norte de Minas Gerais...
Uma das mais prazerosas atividades da minha vida de adolescente em São Paulo era visitar o Pátio do Colégio. Ficava ali sentada na porta da capela, pensando em como era a semente desta gigantesca cidade, no tempo de  Anchieta....Não era difícil imaginar...Ouvia as incríveis histórias de minha outra avó paulista, descendente de italianos...Ela, ainda criança, atravessava o Viaduto do Chá, quando ele era de madeira, singelamente suspenso sobre o famoso Vale do Anhangabaú, onde realmente havia uma linda plantação de chá!
A maquete acima, do Museu de Anchieta, tem um pontinho branco bem no centro: o Pátio do Colégio...

A vida foi passando e tantos desafios se me apresentaram, que a primeira história fundada na cultura indígena do Brasil, - Apiatã - foi escrita aqui em Uberaba, em maio de 2006, quando cheguei a esta cidade. Mais precisamente, no Mosteiro da Glória, onde fiquei hospedada por um período. Iria, nesta ocasião, fazer uma contação de histórias no Oásis (Organização dos Amigos Solidários Infância e Saúde) e gostaria de apresentar algo novo...Assim nasceu Apiatã, uma história sobre a coragem de ser e a alegria de viver. Apiatã, um menino índio e sua incrível aventura, para ser contada na roda da aldeia...
A escola indígena é realmente uma roda, onde cada qual conta a história do seu dia... Onde o pajé conta a história da criação do mundo, onde se desfiam as narrativas da longa história da própria aldeia, dos povos indígenas...Essa cultura oral fundada na experiência, essa aprendizagem centrada na vivência, no sentimento compartilhado, na emoção solidária, é um legado extraordinário dos nossos índios para nós... Um fio que não pode ser rompido, afinal, não foi o Padre Manoel da Nóbrega, também, um contador de histórias? Ele e Anchieta contaram para os indios do Brasil nascente, a linda história do nosso futuro...E eles acreditaram!
Estamos até hoje tentando fazer esse país gigante se tornar um exemplo de amor e de paz para o mundo inteiro...

Grande e fraterno abraço,
Rita De Blasiis

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Lua de Li Po

Li Po viveu no século VIII, "dizem que Li Po morreu afogado tentando abraçar a Lua. [...] Em quase todos os seus poemas a lua aparece, clara e próxima, como se realmente fossem dois companheiros de mãos dadas, entre jardins e lagos, palácios, montanhas e rios". (Cecília Meireles)

Amo esses Poemas Chineses traduzidos pela Cecília Meireles... Ouçam: Com a taça na mão, interrogo a Lua... Li Po e Villa-Lobos...Prelúdio nº 4.