terça-feira, 13 de novembro de 2007

O presente do Café Book...

Marquei com o Mário Vale, uma entrevista no Jornal em que ele trabalhava. Logo após a minha chegada, Mário me ligou dizendo que atrasaria alguns minutos, e sugeriu que esperasse num Café próximo. Ao verificar o nome do Café, me surpreendi: esse é o Café que o Marcelo Xavier me deu! Havia escrito uma carta pra ele, na minha coluna e a sua resposta singular me oferecia esse presente. "É sua, a partir desta linha, o "Café Book", uma pequena livraria no fundo de um café." Entrei e lá estava tudo tal como Marcelo descreveu. Comentei com o criador do espaço e ele de tal forma se encantou com a história que ligou para o celular do nosso amigo. Para nossa surpresa, Marcelo respondeu: "já estava no caminho, a poucos quarteirões daí, preciso tomar um lanche antes de ir pro aeroporto"... Cinco minutos após, não mais, o Marcelo apareceu sorrindo.
Ficaria um mês fora de Belo Horizonte. E eu estava de passagem pela cidade, no final de semana. Iria procurá-lo, mas, certamente não o encontraria mais...
Há alguma coisa na lógica do Universo que funciona maravilhosamente bem quando se trata de reunir as pessoas ligadas por um ideal em comum... O nosso café teve um sabor especial de tudo pode acontecer, próprio desse mundo em que transitamos, o mundo pra lá de encantando do Mestre André e de tantos outros que ensinam o exercício da vida como poesia pura.


A carta escrita pelo Marcelo, em resposta à minha foi publicada em 1999, e aqui está ela...

Amiga Rita,

Que idéia a sua de colocar foco num dos mais incríveis veículos de expressão e comunicação que é a correspondência.
Sinto-me privilegiado por ter sido alvejado por sua pena-ponta-de-Iápis-tecla. Na mosca.
Uma coisa eu adorei na sua carta: dar de presente urna árvore florida para Cristina. Um achado! Resolve todos os problemas que nascem quando se quer dar um presente. Nesta sua forma, pode ser uma árvore, um pedaço de bosque, uma cachoeira, uma lua, uma pessoa bonita, é o máximo! O universo vira uma possibilidade só. E, incrível, esse tipo de presente não precisa ser levado até a pessoa. Ele fica lá, e o presenteado vai até a pessoa. Ele fica lá, e o presenteado vai até quando e se puder. Mas, há a garantia de que ele é seu para sempre e pronto.
É, de repente, uma outra forma de você possuir as coisas. Sem a obsessão de ter que carregar pra casa, feito urna formiga. Assim você sai possuindo as coisas, deliciando-se com elas e deixando-as quietas em seu lugar: uma bela casa, uma escultura de praça, um olhar, uma turma de adolescentes, um trecho de rua e até uma cidade Inteira.
Para te agradecer mais esta liberdade (são quantas?), que incorporo ao meu repertório de pequenos atos livres, quero te presentear também. É sua, a partir desta linha, o "Café Book", uma pequena livraria no fundo de um café. A livraria seria uma qualquer se não fosse seu livreiro, o Álvaro, e o café não teria nenhum sabor sem a Raquel. Importante: o presente só estará completo à frente de uma xícara de "caputino manuale com crema e canelita" que deverá ser pedido desta forma, única e exclusivamente ao "Mister" do outro lado do balcão. Provavelmente algum poeta já estará com você te dizendo maravilhas em várias línguas. É a milagrosa função dos livros. Seu ouvido vai perceber que o Paul McCartney está no fundo da .loja discretamente. Continue calma e aceite tudo como natural e cotidiano.


Um abraço do amigo
Marcelo Xavier