sábado, 21 de agosto de 2010

APIATÃ

E se um arqueólogo da USP encontrasse na sua horta uma machadinha de agricultura indígena e alguns cacos de cerâmica perfeitamente identificáveis como panelas de barro feitas pelos índios que habitavam a aldeia que existiu onde hoje é a sua casa? O que você faria?
Vez ou outra, um episódio desses me surpreende... Penso que minha atração pela cultura indígena funciona ao revés, e por si, atrai essas coisas incríveis!
Guardei minha machadinha e os meus caquinhos com muito carinho...Quem sabe um dia encontram o seu destino?

Na adolescência, considerei algo da maior importância aprender a falar Tupi-Guarani. Desde a infância, o projeto de ser escritora me consumia um tempo de leitura e de preparação cultural, dentro de um contexto que era gerido segundo minhas próprias afinidades e prioridades. No meu entendimento infantil, escritor deveria ser culto! Como entender o Brasil, então, falar sobre ele, e com espirito genuinamente brasileiro, excluindo a cultura indígena? Muito infelizmente, não encontrei quem me ensinasse o Tupi-Guarani, nem mesmo um dicionário! Mas, esse desejo de aprendizagem ficou perambulando pelo meu coração... E as memórias do Brasil ameríndio também... Vez ou outra, correspondia aos apelos desta brasilidade mestiça que me premiou com uma bisavó tapuia legítima, vinda de uma aldeia indígena no norte de Minas Gerais...
Uma das mais prazerosas atividades da minha vida de adolescente em São Paulo era visitar o Pátio do Colégio. Ficava ali sentada na porta da capela, pensando em como era a semente desta gigantesca cidade, no tempo de  Anchieta....Não era difícil imaginar...Ouvia as incríveis histórias de minha outra avó paulista, descendente de italianos...Ela, ainda criança, atravessava o Viaduto do Chá, quando ele era de madeira, singelamente suspenso sobre o famoso Vale do Anhangabaú, onde realmente havia uma linda plantação de chá!
A maquete acima, do Museu de Anchieta, tem um pontinho branco bem no centro: o Pátio do Colégio...

A vida foi passando e tantos desafios se me apresentaram, que a primeira história fundada na cultura indígena do Brasil, - Apiatã - foi escrita aqui em Uberaba, em maio de 2006, quando cheguei a esta cidade. Mais precisamente, no Mosteiro da Glória, onde fiquei hospedada por um período. Iria, nesta ocasião, fazer uma contação de histórias no Oásis (Organização dos Amigos Solidários Infância e Saúde) e gostaria de apresentar algo novo...Assim nasceu Apiatã, uma história sobre a coragem de ser e a alegria de viver. Apiatã, um menino índio e sua incrível aventura, para ser contada na roda da aldeia...
A escola indígena é realmente uma roda, onde cada qual conta a história do seu dia... Onde o pajé conta a história da criação do mundo, onde se desfiam as narrativas da longa história da própria aldeia, dos povos indígenas...Essa cultura oral fundada na experiência, essa aprendizagem centrada na vivência, no sentimento compartilhado, na emoção solidária, é um legado extraordinário dos nossos índios para nós... Um fio que não pode ser rompido, afinal, não foi o Padre Manoel da Nóbrega, também, um contador de histórias? Ele e Anchieta contaram para os indios do Brasil nascente, a linda história do nosso futuro...E eles acreditaram!
Estamos até hoje tentando fazer esse país gigante se tornar um exemplo de amor e de paz para o mundo inteiro...

Grande e fraterno abraço,
Rita De Blasiis

4 comentários:

Unknown disse...

"Coração, não vos canseis
De bater...que importa lá?
Porque os amores fiéis,
Nem a morte os vencerá."

Quadras de um poeta morto
Antônio Nobre
Parnaso - De Chico Xavier.

Parabéns, Rita, por mais esta obra de Arte...
21/08/2010
22:31 horas

Paulim.

Unknown disse...

ola me chamo Fagner Monteiro sou diretor e ator. gostaria de obter contato da AUTORA: RITA DE BLASIIS tenho procurado email, telefones. Motivo, quero montar a peça O auto do sapo mágico esse clássico infatil e encantador, poém precisaria da permissão da mesma. se alguém ou a própria estiver vendo essa mensagem favor me comunique pelo email. desde ja fiarei muito grato. muito obrigado por fazer parte de incentivo e inspiração da fabrica de fazer artes. meu email: monteirofagner@gmail.com
cel. 87-9647-8998

carcará-urú/ disse...

Prezada Rita:Com a permissao dos meus ancestrais do povo Katu-Awa''Aracha',agradecemos pelo respeito,carinho e admiracao pelos povos indigenas.Que Tupa te ampare e proteja.
A'uwe^ cunha~Katu'-Ete'.
(Saudacoes Senhora do bem e verdadeira)

Cacique Kakara'-Uru-Aracha'

carcará-urú/ disse...

Prezada Rita:Com a permissao dos meus ancestrais do povo Katu-Awa''Aracha',agradecemos pelo respeito,carinho e admiracao pelos povos indigenas.Que Tupa te ampare e proteja.
A'uwe^ cunha~Katu'-Ete'.
(Saudacoes Senhora do bem e verdadeira)

Cacique Kakara'-Uru-Aracha'